domingo, 20 de novembro de 2011

Domingo

Hoje é domingo, para alguns um dia santo, para outros um fim do principio. Não me enganei , é mesmo assim como estou a dizer.
No fim de semana acreditamos que tudo podemos: vamos descansar, vamos ler, vamos ver exposições, vamos fazer exercício, vamos ao teatro, vamos.
Este fim de semana não fui, bem como muitos de vocês, em muitos destes fins de semana, senão mesmo neste.
                                                                   
Fiquei em casa a pensar.


Foi bom, porque precisamos destes dias de expectativa zero, para que em vez de terem acontecido coisas que tivemos de fazer, aconteceram coisas dentro de nós: ideias, desejos, sonhos, confusões, sentimentos, zangas e devaneios.

E talvez, talvez para o próximo fim de semana, já seja tempo de voltar a fazer coisas,         ou não.



sábado, 19 de novembro de 2011

O Cancro

Já tudo se disse sobre este tema por isso, não sei o que mais posso eu dizer. 
Aconteceu na minha familia há 10 meses atrás e voltou a acontecer ontem. São duas pessoas importantes, de que gosto e de que preciso na minha vida.
Vem este ser omnipotente e arrogante, muda as nossas células, ataca-nos e de repente ficamos reféns com todo um corpo à sua mercê. 
É um nódulo, é uma massa..., são tudo formas dele - cancro - se apresentar e invadir a vida.

Há quem lute, há quem se resigne, há quem negue, há quem tente ironizar e banalizar. 
Mas o que acontece é que se perde o controlo de um corpo que passa a ser de outro dono. Claro que não podemos desistir de o tentar destruir, mesmo nós, os que amamos estas nossas pessoas que adoecem. O nosso afecto importa para lixar este gajo.







Não é uma mensagem de esperança nem de desesperança, é só zangar-me com quem não pára de ameaçar pessoas de quem eu gosto.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Pedaços de nós


Estar numa varanda e faltar um dos lados, só restam umas plantas altas onde antes existia um bocado de parede, sólido. Existe um vendaval e nesta varanda as cadeiras estão de pernas para o ar e parece não haver gravidade pois elas agitam-se num baile bizarro. Fico a pensar como aconteceu isto, como se perdeu parte da varanda, onde antes era seguro andar e agora tenho de me acautelar. Chove, o vento empurra-me, entra-me no corpo e tento manter-me de pé.
Se caio é o abismo que me espera, uma espécie de buraco negro.
Mas não caio.


Aqui reina o medo, medo da nossa casa interna se poder desmoronar, de perdermos partes de nós, tal como aconteceu na varanda, medo de não controlar o que se passa cá dentro, medo de cair e não conseguir voltar a subir.


Somos assim nós.



As Pessoas

Tenho a sorte de fazer exactamente aquilo de que gosto, e penso que só isso já me deixa como alguém com uma sorte enorme. Trabalho com pessoas, sobre elas e por vezes através delas sobre mim. É impressionante o que nós somos capazes de viver, mesmo quando nos parece uma tarefa impossível. Amamos, sofremos, lutamos, refilamos, temos medo.
Somos capazes de feitos extraordinários e ao mesmo tempo podemos precisar da luz acesa durante a noite. 
Queremos que gostem de nós mas por vezes esquece-mo-nos de gostar de nós para começar. Parece tarefa fácil mas não é e muitas vezes vamos vivendo toda uma vida sem nos encontrarmos nunca com quem somos. É também destes desencontros que se faz o meu trabalho.
Depois é fascinante conhecer pessoas e perceber de que são feitas as ligações entre elas. São feitas de momentos, de afectos, de cheiros, de imagens, de toques, ...são assim as ligações e cada um de nós tem dentro de si um grande álbum destes pedaços.
Álbuns que estão por vezes completos, outros com páginas vazias, alguns têm imagens desfocadas e outros estão mesmo estragados e desarranjados quer na forma quer no conteúdo.
De tudo isto e de muito mais se faz o meu dia em que me cruzo com pessoas, que me dão o privilégio de me deixar ir entrando no seu mundo interno e cruzar-me com quem lá vive.
Havemos de continuar esta conversa.   
Como escrever depois de deixar de ter escrito. Talvez por não acreditar que as minhas palavras podiam chegar a alguém. Penso nelas como aqueles que atiram garrafas ao mar com mensagens e esperam um dia poder receber uma resposta.
Mas mesmo quando isso não acontece continuam a escrever, só já não as enviam na garrafa, ficam a aguardar vez, num sítio algures.