sábado, 13 de setembro de 2014

A intemporalidade do tempo

A intemporalidade do tempo


Custa saber o que é importante nesta vida, a acontecer todos os dias dentro e fora de nós. Dentro de nós há um universo biológico, fisiológico, neurológico e por aí fora que como os nomes indicam todos são lógicos dai se dizer que enquanto máquinas somos verdadeiros relógio suíços mas daqueles mesmo suíços, a que se dava corda e se ouvia o tic-tac constante e não "made in China", porque aí tudo começa a falhar dentro de nós, com um prazo de validade muito curto.

Depois existem os pensamentos, os comportamentos, as emoções e no topo os sentimentos, que também estão todos dentro de nós e nos definem enquanto seres humanos, mobilizando-nos em cada dia para as metas por nós traçadas. Os valores intrínsecos do nosso ser, da nossa humanidade e as paixões movem a nossa vida.

Podemos viver uma grande parte da nossa vida com certezas quase  absolutas, tranquilizantes, securizantes porque colocam limites que definem por onde podemos andar e nunca nos deixam perto de abismos, nem de lugares escuros, mas um dia...

Um dia acordamos  e não sabemos o que está a acontecer. Tudo o que era seguro, constante, organizador foi-se.

Olhamos para o espelho e nem sabemos como falar com o ser humano que está do outro lado, quanto mais reconhecê-lo. Queremos perceber a realidade interna e externa e estamos à nora, oficialmente à toa. Aí recorremos às nossas pessoas, amigos, família, para nos ajudarem a perceber o que está a acontecer, para nos ajudar a voltar ao trilho seguro, mas nada, nem ninguém vai conseguir.

Teremos de ser nós a reinventar-nos, a dar passos que nunca demos, a questionar o até então inquestionável, a lutar todos os dias com o medo do desconhecido. Não é fácil, às vezes é aterrador porque voltámos a ter 4 anos e medo do escuro. Então queremos alguém que nos abrace ou nos dê a mão e diga: vai ficar tudo bem, estou aqui.

É neste período da vida que temos de contar com o que temos cá dentro de património afetivo, para servir de material de construção para esta nova parte do nosso Eu, que parece emergir do desconhecido. Seremos pessoas melhores, mais consistentes, não faço a mínima ideia, porque ainda estou no caminho do desconhecido.

Se acredito em mim? Tudo até à pouco tempo atrás me faria dar a resposta sim, mas hoje nem isso sei. Sei coisas de mim que me definem, mas há muita área cinzenta. Se há um ano atrás me deixassem ver um filme com a minha vida agora, eu ia achar que estava a assistir a qualquer coisa surreal como um um quadro do Magritte ou do Dali,  ia rir e dizer que aquela pessoa nunca seria eu.

Mas é aqui que estou e há coisas boas neste sítio.  Há pessoas lindas, há sentimentos genuínos, há cores novas, há cheiros intensos como o do mar salgado, da relva acabada de cortar, do café acabado de fazer. Há coisas a fazer pela primeira vez que nos sabem bem e nem sabíamos que existam ou que gostávamos delas. Há um mundo escondido atrás daquele que conhecíamos. É diferente, às vezes entusiasmante às vezes assustador às vezes estranho.

E do outro lado do espelho continua aquela pessoa que ainda não reconheço e que não sabe bem para onde vai.

Só sei que vai, porque nunca deixou de ir.

terça-feira, 29 de julho de 2014

A Morte


A morte tem a sua forma de nos dizer para viver. A morte é escura como breu por isso deixa-nos sem sentido, à deriva, não temos como fazer para a perceber. Às vezes é um sono que se impõe e nos leva a um lugar desconhecido. 

Quando durmo morro, porque não sei para onde vou nem sei se vou voltar, mas é uma viagem que tenho de fazer, talvez porque acredite que vou, e depois volto bem.

Mas posso enganar-me se o sonho vem e é esmagado pelo pesadelo, do qual como na morte não encontro a saída. Corro e não chego a lado nenhum, grito e ninguém me ouve, a voz fica abafada no fundo da garganta, caio numa queda em que me vou esmagar e não tenho como evitar, a aflição invade-me e tento que algo ou alguém dentro de mim me desperte e me faça sair daquele sítio. 

E saio.  Daquele sítio saio, mesmo que volte lá muitas vezes, saio sempre, mas este é o sono lembras-te.

E a outra morte já a vi alguma vez? Pessoas mortas já vi, muitas, mais do que gostaria. Algumas são-me estranhas e por isso só me parecem numa outra espécie de sono, daquele que não tem volta. As que me são queridas não foram porque estão dentro de mim e recupero-as sempre que quero, continuam a gostar de mim e eu delas, o resto não interessa. Há sempre dor quando vão mas passa quando se esgota dentro de mim.

E é isto a morte? 
Não!

É gelo, é cinzento, é dor lancinante, são químicos a envenenar o rio, é cancro, é guerra, é mulheres a serem vendidas, é a dor de perder alguém, é negro, escuro,  é não encontrar saída para a dor, é violação de mulheres,  crianças, de homens.
É não encontrar o caminho para dentro de mim, é não ter sonhos, é viver sem ter brilho nos olhos, é não rir com alguém, é conformar-me, é não lutar.
É desespero, é ter fome e não ter que comer, é enlouquecer, é deitar-me numa cama à espera que o tempo passe por mim, é gente arrogante que olha através de mim
É um sítio frio onde o calor não chega, é um sítio feio, é um sítio que arranha e nos fere a pele, é uma ferida infectada que apodrece e tem cheiro pútrido, é uma árvore queimada que já não pode ser verde.

É estar sozinha e é também 
Não gostar!
Preciso de gostar para conseguir acreditar
Que da morte me posso afastar por ora.

Gostar de gente, de respirar, de correr, de rir, de chorar, de fazer amor, de me deitar rolar na terra e sujar-me
Gostar de ouvir o barulho do mar e nele entrar, de me sentar a uma mesa com amigos e deitar conversa fora, de dizer aos meus, a todos eles que os amo e me fazem falta
Gostar de fazer coisas, de trabalhar, de aprender sempre porque nada sei de tudo
Gostar de gente diferente, gostar de toda a música, de dançar descalça, de ler um livro, de dormir uma sesta, de sair de dia ou de noite, de correr, de viajar, conhecer sítios e pessoas, sair da minha zona de conforto, arriscar e Viver.

Por isso quero tudo, quero já, ontem já era tarde, quero que não me escape nada e que quando chorar seja por coisas que vivi, amei e perdi
Não quero nunca chorar pelo que podia ter vivido e não vivi, esse é o mais vil de todos os lutos, esse sim matar-me-ia.

E assim se chega ao fim e se percebe que é a existência da Morte que dá todo um sentido à Vida.



quinta-feira, 17 de julho de 2014

O Amor esse tema tão desconhecido

O que escrever sobre o amor que já não tenha sido escrito, rescrito, rascunhado, elaborado ou extensamente pensado.

Sinceramente, não deve haver nada o que me dificulta a tarefa, que devia ser um prazer e não uma tarefa, mas assim sendo torna-se uma tarefa que me dará eventualmente algum prazer.

Sim já consegui duas frases inteiras sem falar do que realmente interessa, o que também tem a sua virtude, se forem benevolentes com esta humilde blogger.

O amor vem quando menos esperamos, de onde menos esperamos e apanha-nos sempre de surpresa. Podemos e queremos sempre que ele faça parte das nossas vidas mas quando chega, por vezes atrapalha-nos, embaraça-nos e deixa-nos sem tino.

As condições ideais para o amor não existem. O amor surpreende-nos e deixa ao nosso critério se somos ou não capazes de o viver. Talvez o maior mistério da vida seja a nossa capacidade de amar e ser amados de uma forma que nos faça pessoas melhores.

O amor faz-nos felizes ou atira-nos para abismos desconhecidos, mas é sempre o Amor que nos faz Viver, porque só ele dá dimensão à nossa vida. O resto são coisas, episódios, momentos, mas não nos acrescentam valor.

O Amor acrescenta-nos sempre algo e faz de nós pessoas únicas no universo, porque ao amar e ser amados, somos como uma impressão digital, um ADN, irredutíveis, irrepetíveis, indefectíveis. 

É por isto que ao longo dos séculos se compõe música, se escrevem milhões de textos, se pintam quadros, se esculpem obras fantásticas, porque por mais que todos possamos falar sobre o amor, ainda está tudo por dizer mas sobretudo há muito e muito para sentir.

Para os que se atrevem, os que arriscam, os que amam o céu não é o limite.
As voltas do amor

domingo, 20 de maio de 2012

A alegria do caracol

Chegaram os caracóis malta, convém avisar toda a gente que já é tempo de caracóis e cerveja fresca numa qualquer esplanada, tasca ou fancy restaurant. Não quero saber.


Quero sentar-me, pedir os ditos cujos, beber um gole de cerveja enquanto eles não aparecem e antecipar o prazer da sua chegada à minha mesa. Depois da travessa ser pousada na mesa (sim porque eu não sou de pires) ficar a a inalar o cheiro dos oregãos que são um apelo ao olfacto, e olhar para eles que são uma chamada visual poderosa. A seguir preparo o palito e começo devagar a tirá-los suavemente da sua concha directamente para as minhas papilas gustativas, e oh meu Deus depois de tantos meses com R em que não os pude saborear, aqui está o Maio do meu contentamento.


Um a seguir ao outro vão sendo degustados com o prazer elevado à potencia máxima. Com excepção da audição todos os outros sentidos são chamados a comparecer neste festim sem igual.


Claro que todo este prazer só faz sentido na companhia de comparsas que como nós saibam apreciar os ditos cujos e dissertar sobre os mesmos. 
Faz falta a confraria do caracol!
Tenho dito.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ser é poder Escolher

Tudo na vida tem um sentido, ou mesmo dois ou talvez haja imensos sentidos apesar de estarmos sempre a escolher um deles. Parece difícil fazer escolhas, mas às vezes fazemos imensas, mesmo que não sejam necessárias, mesmo que devêssemos ter esperado que o sentido nos escolhesse a nós em vez do inverso.
Vem esta conversa a propósito do sentido ou das escolhas, ainda não decidi.

Num qualquer dia, uma mulher que eu admiro pelo que é e pelo seu trabalho, dizia-me depois de 15 anos de carreira bem sucedida, que não sabia bem porque fazia aquilo que fazia. Achava que estava na hora de mudar, não pelo cansaço, ou pelo desinteresse, simplesmente porque não conseguia perceber porque estava naquele sítio e não noutro diferente.

Falámos muito sobre o tema e acabou por descobrir, que estava naquela carreira por obstinação (substantivo feminino, só podia). Parece impossível mas vão ver que não é. Quando miúda pensou no que poderia ser o seu futuro, corriam os seus prazenteiros 15 anos de idade.

Foi confrontada pelos pais que era imperativo que fizesse uma escolha, não se podia dar ao luxo de não saber o caminho a seguir. Como era boa aluna, e apesar de não ter respostas, escolheu uma área complicada, logo criticada pelos pais.

"Não podes escolher esse curso, isso não tem sentido, esse curso não é para mulheres, não vais conseguir chegar a lado nenhum."

Ela escolheu, fez facilmente o dito curso, arranjou rapidamente trabalho, foi considerada brilhante  desde muito cedo, trabalhou em diferentes lugares no mundo, sempre com sucesso, tudo isto num mundo de homens (sim isto ainda é real), sendo a única mulher em Portugal na sua área de especialidade.

Durante muito tempo o sentimento de gozo pelo seu trabalho esteve presente, quer pela forma como conseguia passar as suas ideias, quer pela dificuldade dos projectos em que estava envolvida e nos quais era, invariavelmente, bem sucedida.

Hoje em crise de identidade profissional e ao levantar tantas questões, percebe que esta não foi uma verdadeira escolha, e por isso perdeu o sentido que pensava ter. Foi a obstinação, teimosia, pertinácia, birra que a conduziu ao seu futuro. Quis provar que estavam errados os que lhe prognosticavam o insucesso, os que não acreditavam ser possível. E conseguiu, de forma exemplar, só que agora percebe que teve pouco sentido esta escolha, e no fundo acha que sempre  o soube mas só agora é capaz de o dizer em voz alta.

E agora?

Agora vai ter a coragem de  tentar   encontrar um caminho com sentido, ou esperar que este caminho a possa encontrar a ela, sem pressa, porque desta vez quer fazer uma verdadeira escolha. Não para provar nada, não para se opor a ninguém, mas porque Quer.

É bom não é, eu acho!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A inutilidade do texto

Olá pessoas.

Já sei, vou ser considerada a blogger mais tretas de sempre, porque só escrevo quando o rei faz anos, ou quando a Europa se reúne em conselho. Não percebeu, nem eu.

Hoje gostava de dizer qualquer coisa sem interesse de espécie nenhuma, o tipo de texto que depois de se ter lido a primeira linha já toda a gente se foi embora.
Não vos parece bem escrito em termos de concordância gramatical, em termos de conteúdo, é bom, também ajuda a que não leiam mais, podem ir-se embora agora.

Mas aposto que ainda aí estão, é assim o português, gosta de ver acidentes a acontecer, mesmo que sejam linguísticos, de total falta de ideias, palhaços sem graça e com a pintura esborratada ou carros em colisão na 2ª Circular.

Acho que estou a ser bem sucedida, já lá vão umas linhazitas e até agora nada. Podia pôr  aqui uma citação de alguém famoso como o R. Kipling, o F. Pessoa ou mesmo A. Tchékov, para dar alguma credibilidade a isto e ficavam todos impressionados. Percebia-se que era um texto inteligente, de alguém hoje pouco inspirada mas cheio de conhecimentos.

Não, nada disso meus amigos, sim porque se já vão na linha 13 e ainda não se foram embora é porque são meus amigos de verdade. Há que dar valor a quem tem coragem de ver tanta letra junta com virgulas acentos e parágrafos para não dizer coisíssima nenhuma. E sabe bem isto, porque temos sempre tanta preocupação em dizer coisas que façam sentido, que nos esquecemos de vaguear.

............

Ontem vi o filme a Dama de Ferro sobre a Dama de Ferro (estão a ver isto ainda pode piorar, se continuarem aí) e gostei, há que dizê-lo. Mas houve uma passagem que me fez pensar, o que só de si já é um mérito. Lady Thatcher, a dada altura diz que um dos grandes problemas da actualidade é que as pessoas só querem saber de sentimentos,  já ninguém liga a ideias ou pensamentos quando esses é que são realmente importantes.

Desculpem lá todos os que concordam com esta Ideia, mas para mim pensamentos sem sentimentos, são meros exercícios de retórica. Precisamos de sentir o que dizemos para que faça sentido e valha a pena.
Foi só um desabafo, pois precisava de dizer como me estava sentir.

Com isto tudo já tramei o texto, com esta espécie de reflexão minimalista, porque se calhar isto é capaz de ter algum interesse, mas  poucochinho mesmo assim.

Se ficaram até ao fim, são verdadeiramente estóicos e confessem estão sem nada para fazer nesta espécie de antecâmara da semana, que é o final de cada domingo.

Tenho dito.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nada

Hoje apetece-me escrever sobre nada.
Estou a trabalhar mas sem qualquer expectativa de tipo nenhum. Não sei sobre que tema hei-de escrever. O nada é bastante simples pois é onde pode caber tudo apesar de não estar lá coisa nenhuma. Pensem na vantagem de ter o nada na cabeça. Nada de ideias feitas, nada de medos, nada de preconceitos, há tempo para tudo, ainda vai acontecer o que queremos, não temos dores que nos agoniam, nem arrependimentos.
É quase como nascer de novo, podemos ter algum frio, não saber o que fazer nas situações, pois nada aprendemos ainda, mas no entanto há todo um mundo à nossa espera: cores, cheiros, sons, texturas, sabores.
Podemos começar por aqui, por experimentar os sentidos e ver como a coisa corre, e depois podemos aventurar-nos com as palavras, as pessoas, o conhecimento, o mar e o respirar.
É bom parar para perceber o nosso respirar e sentirmos que estamos cá, somos nós.
Não importa mais nada pois tudo o resto pode chegar a seu tempo (ou não), mas se tivermos consciência do Ser e não do Ter, tudo pode acontecer.
Não me preocupei com rimar, mas aconteceu e na perspectiva do não estava à espera de nada, se chegou deixo ficar.
E sim, conhecedores, eruditos e delatores da língua de Camões, não vos preocupeis com a minha fraca prosa, pois eu sei que não é nada, mas é mesmo isto que preciso. 
Não tenho mais Nada para dizer...