terça-feira, 22 de abril de 2008

Os livros da nossa vida

Pensei em escrever sobre os livros da nossa vida, mas sem uma grande convicção. Já toda a gente escreveu sobre o tema o que torna tudo bastante mais difícil, mas mesmo assim aqui vai.

Porque lemos o que lemos e deixamos outros milhares, milhões de livros para ler? Um dos grandes dramas de quem gosta e ler é ter de escolher. Qual a razão que me faz pegar em A e nem olhar para a capa de B? Porque abraçamos determinados temas até à exaustão e somos perfeitamente incapazes de, sequer pensar, noutros.

Mistério ou talvez não. Na verdade é como se possuíssemos um aparelho de ressonância interna, invisível ao olho humano, inaudível e inodoro, mas está lá. Vamos à procura dos nossos livros, dos que nos dizem algo, dos que nos ajudam a compreender, dos que nos fascinam, no fundo, dos que nos fazem viver.

Quando lemos um livro algo dentro de nós muda para sempre. A pessoa que éramos antes de o ler já não existe, porque aquela história passou a fazer parte de nós, do nosso pensamento, do nosso sentimento, da nossa forma de estar no mundo.

Gosto de pensar no nosso mundo interno, como um puzzle de muitas peças, nem sempre ordenadas, nem sempre a fazerem sentido, nem sempre a fazerem um todo. Mas os livros que lemos permitem-nos mexer no puzzle, permitem-nos avançar mais um pouco nesta construção gigantesca.

Então e como sabemos se não são os livros que não lemos que iriam dar sentido a toda esta construção? Não sabemos, e é essa a excelência do processo. Vamos continuar a ler, a ficar fascinados com cada novo livro, vamos continuar a procurar e ao mesmo tempo a procurarmo-nos em cada um desses livros.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Verdade da Mentira

Quantos de nós não fomos já confrontados com a mentira? Provavelmente todos, em poucos, alguns ou muitos momentos da nossa vida.

O amigo a quem não queríamos magoar por não nos apetecer ir ao seu encontro, e então acontece-nos adoecer; a tia a quem agradecemos o «enxoval», apesar de não gostarmos de tal, nem de tudo, a ele indelevelmente ligado; o chefe, a quem sempre afirmamos não nos importar de ficar mais uma ou duas horas a trabalhar, apesar do cansaço e do sentimento de injustiça gritante; o filho a quem acedemos a todo e qualquer pedido, porque se o amor é incondicional, então não se pode recusar.

Depois existem os outros, raça superior aos simples mortais: quem afirma, não mentir nunca. Estamos na presença dos piores mentirosos, aqueles que não se confrontam com a sua própria verdade: também mentem. Para estas pessoas é-lhes difícil, senão mesmo impossível, distinguir os dois conceitos, fazendo então, do seu discurso um verdadeiro dogma. A verdade é construída segundo a sua percepção da realidade, não deixando espaço à intersubjectividade, a verdade dos outros.

Mas afinal em que ficamos?

Algures num espaço intermédio em que não precisamos de manter a aprovação e afecto de todos, passando sempre por cima de nós próprios, e podemos dizer não. Mas também não ficamos na arrogância desinteligente de estarmos constantemente a fazer da nossa verdade um estandarte. Porque ao fazê-lo, vamos sem dúvida, passar a viver num mundo irreal, em que vamos ficando sozinhos, só com a companhia das nossas verdades absolutas.

Agora, quem nunca disse uma mentira? NINGUÉM!

domingo, 20 de abril de 2008

O ar que respiro e a cadeira em que me sento

Parece absurdo pensar no ar que inspiramos a cada momento, ou nas cadeiras onde permanecemos sentados grande parte da nossa vida. Absurdo como, se é impossível vivermos sem estes dois elementos fundamentais, mas ao mesmo tempo invisiveis ao pensamento. Respiramos sempre e raramente nos apercebemos da importancia desse ar que nos permite viver a cada momento.

E o que dizer das cadeiras, frias de metal onde tentamos permanecer o menor tempo possível, ou confortáveis no tecido, na forma, na cor, fazendo claramente apelo aos nossos sentidos. Seja no relaxar com um bom livro, na espera da cadeira do hospital, na verdade, tal como o ar, elas estão por todo o lado e fazem parte da nossa existência.

E o interesse é? Tomarmos consciência das coisas que tomamos como certas mas que se pensarmos por um momento na sua ausência, só nesse momento as apreciamos verdadeiramente.

Como começar de novo

Já todos passámos por isso. Ter de encerrar um capitulo na nossa ida para começar um novo. Dificil, parece ser este passo de acabar, fazer um luto relativamente ao que terminou.

O mais frequente é estarmos a falar de alguém que saiu da nossa vida. Não interessa se perdemos essa pessoa fisicamente (morte) ou afectivamente, mas perdemos e por isso precisamos de chorar essa perda. A questão é se ficamos presos no passado, e ao fazermos isso parte de nós perde-se nesse processo.

Muitos de nós podem passar anos sem capacidade de voltar a investir numa relação, num projecto de vida, tentando, quando muito, sobreviver a essa perda. Parece nesse caso ser a dor que nos alimenta, mais do que o desejo de voltar a viver plenamente.

É claro que voltar a viver, implica o risco de voltar a sofrer perdas, mas não há outra forma de se viver realmente. Tudo o resto parece bastante pouco.