sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ser é poder Escolher

Tudo na vida tem um sentido, ou mesmo dois ou talvez haja imensos sentidos apesar de estarmos sempre a escolher um deles. Parece difícil fazer escolhas, mas às vezes fazemos imensas, mesmo que não sejam necessárias, mesmo que devêssemos ter esperado que o sentido nos escolhesse a nós em vez do inverso.
Vem esta conversa a propósito do sentido ou das escolhas, ainda não decidi.

Num qualquer dia, uma mulher que eu admiro pelo que é e pelo seu trabalho, dizia-me depois de 15 anos de carreira bem sucedida, que não sabia bem porque fazia aquilo que fazia. Achava que estava na hora de mudar, não pelo cansaço, ou pelo desinteresse, simplesmente porque não conseguia perceber porque estava naquele sítio e não noutro diferente.

Falámos muito sobre o tema e acabou por descobrir, que estava naquela carreira por obstinação (substantivo feminino, só podia). Parece impossível mas vão ver que não é. Quando miúda pensou no que poderia ser o seu futuro, corriam os seus prazenteiros 15 anos de idade.

Foi confrontada pelos pais que era imperativo que fizesse uma escolha, não se podia dar ao luxo de não saber o caminho a seguir. Como era boa aluna, e apesar de não ter respostas, escolheu uma área complicada, logo criticada pelos pais.

"Não podes escolher esse curso, isso não tem sentido, esse curso não é para mulheres, não vais conseguir chegar a lado nenhum."

Ela escolheu, fez facilmente o dito curso, arranjou rapidamente trabalho, foi considerada brilhante  desde muito cedo, trabalhou em diferentes lugares no mundo, sempre com sucesso, tudo isto num mundo de homens (sim isto ainda é real), sendo a única mulher em Portugal na sua área de especialidade.

Durante muito tempo o sentimento de gozo pelo seu trabalho esteve presente, quer pela forma como conseguia passar as suas ideias, quer pela dificuldade dos projectos em que estava envolvida e nos quais era, invariavelmente, bem sucedida.

Hoje em crise de identidade profissional e ao levantar tantas questões, percebe que esta não foi uma verdadeira escolha, e por isso perdeu o sentido que pensava ter. Foi a obstinação, teimosia, pertinácia, birra que a conduziu ao seu futuro. Quis provar que estavam errados os que lhe prognosticavam o insucesso, os que não acreditavam ser possível. E conseguiu, de forma exemplar, só que agora percebe que teve pouco sentido esta escolha, e no fundo acha que sempre  o soube mas só agora é capaz de o dizer em voz alta.

E agora?

Agora vai ter a coragem de  tentar   encontrar um caminho com sentido, ou esperar que este caminho a possa encontrar a ela, sem pressa, porque desta vez quer fazer uma verdadeira escolha. Não para provar nada, não para se opor a ninguém, mas porque Quer.

É bom não é, eu acho!

2 comentários:

Boop disse...

É estranhamente ousado!
Ou serei eu na minha vida estável que o sinto como tal!
Porque mudar... parece ao mesmo tempo tão fácil e tão difícil. Depende talvez da rede que nos ampara o salto (interna ou real)
Tenho uma amiga que perto dos 40 decidiu o mesmo - mudar de vida e fazer o curso que sempre quis, deixando para trás uma vida profissional que se seguiu ao curso que nunca quis fazer. Tenho orgulho dela! (tenho de lhe dizer!)

Ana Rocha disse...

É bom ter coragem de mudar, mesmo quando as probabilidades estão contra nós.